quinta-feira, janeiro 19, 2006

Outro voyeur

A vizinha sabe que estão a olhar para ela. Bom, não tem a certeza, mas imagina que haja alguém a olhar. Afinal, está rodeada de pessoas, como todos nós.
Uma vez aconteceu, quando ela era mais nova. Morava sozinha num apartamento do bairro mais "beto" da cidade e a janela do seu quarto dava a um pátio grande e ensolarado. Ela estudava lá à noite, de short e camiseta, com a janela aberta por causa do calor danado que invade a capital em maio.
E não sabia que havia alguém a observar... Até que levantou os olhos e o viu.
E lá estava ele, a fumar tranquilamente um cigarro na janela, a olhar como quem assiste TV.
No começo, a vizinha assustou-se... Aquele homem era, pelo menos, vinte anos mais velho do que ela... E ela estava sozinha em casa... Então ele começou a fazer bobagens na janela e a fez rir... Ela esqueceu os medos e riu com aquele desconhecido durante quinze minutos, até que fechou a janela para continuar a estudar.
Então, alguém bateu na porta. E quando ela foi abrir, viu como um envelope se deslizava por baixo da porta. Curiosa, o abriu. Dentro havia uma fotografia de um vaso com flores (que coisa feia, pensou ela) e uma carta, onde aquele homem (quem mais podia ser?) lhe explicava que era fotógrafo e que adoraria conhecê-la. Assinava com seu nome e duas palavras: "pillow talk".
Então, ela assustou-se realmente.
À noite seguinte, a vizinha continuou a estudar como sempre, de janela aberta, short e camiseta, com música e um monte de papéis na mesa. Nem se lembrava daquele homem estranho, até que sentiu um golpe de luz no rosto e olhou para o pátio.
Aquele homem tinha tirado uma foto dela!!! Com o coração a bater feito um tambor, a vizinha fechou a janela, trancou a porta e acendeu todas as luzes da casa.
E veio aquele envelope com uma carta: "se quiseres ver a foto, é só combinar comigo... Linda".
Não é preciso dizer que a vizinha jamais combinou nada com ele... Nem que, simplesmente, fechou a cortina para poder estudar de janela aberta. Nem que não deixou de estudar de short e camiseta nunca.