terça-feira, fevereiro 28, 2006

Poesia

Ela nem se apercebeu do momento em que tudo começou. Foi a noite? Foi a escuridão? Foi aquela voz, grave e pausada? Ela não saberia dizer, mas o certo é que o clima a impeliu, pouco a pouco.
Ele continuava a falar, sob o silêncio dela, que os envolvia como um céu tranquilo. Sobre música ou talvez sobre qualquer coisa parva, mas ela achava a voz linda e apelativa; por vezes, nem dava atenção ao conteúdo, levada pela magia.
Ela não sabe quando passou, mas passou. Foi apenas uma mudança quase imperceptível, um respiro, mas passou. E ele o notou, daquele seu lado do mundo, e perguntou o motivo daquele silêncio prolongado.
E ela suspirou.
E ele percebeu.
E ela suspirou mais uma vez.
E ele disse que aquilo era poesia.
E ela se apaixonou pelo proprietário daquela voz capaz de encontrar beleza nas coisas mais banais e continuou a suspirar por ele, para ele, exibindo-se num acto privado que só eles dois entendiam...