Descobertas e desafios

Nunca falámos muito tu e eu, mas há os olhares.
E há conversas dessas que vale a pena decorar. E há gestos que delatam nossas verdadeiras intenções.
Nunca falámos muito, porque cada um de nós pensava que o outro era uma pessoa pudica e bem comportada como o resto do grupo. Enganámo-nos. Nem tu nem eu somos como eles.
Até que um dia começámos a conversar. E descobrimos que gostávamos das mesmas coisas. Que partilhávamos ideias. Que detestávamos a falsidade daquele ambiente pacato.

A vizinha achava simplesmente sexy aquele rapaz, com seu jeitinho de menino formal e aqueles óculos que tentavam encobrir um olhar que contradizia o resto dos gestos. Por vezes, parecia haver muito por trás daquela fachada. Por vezes, pensava que se enganava, que ele era parvo como os outros.
Já o tinha apanhado a olhar para seu decote, para sua boca, a avaliar o conjunto de corpo e palavra, e sempre aceitava o desafio em silêncio, sorrindo com malícia.
Mas nunca esperou uma resposta... E ainda menos a que recebeu ontem:
- Nin, inspiras-me muito... Tu não sabes, mas naquele café no dia de Ano Novo, eu estava...
- De certeza não te inspiro nada bom.
- Nem preciso. Gosto que me inspires coisas más. Não achas bem melhor?
E a Nin corou e respondeu o primeiro que lhe veio à cabeça, calibrando suas forças para aquele novo desafio...