quarta-feira, março 12, 2008

Meu lobo

Chega com a câmara e o sorriso prontos para me desarmar e olha para mim com os lábios prontos para formar o apelido que só ele me dá.
- Fan...
- Já te disse que não me chames de fanciulla.
- Adoro quando te zangas- beija-me perto da boca e não consigo ignorar seu aroma delicioso, limão e cedro, que envenena minha decisão.
Veio para tirar as fotos que lhe prometi há muitos meses, quando ainda éramos simplesmente amigos e precisava delas para seu portfolio. Já estou pronta, de kimono vermelho e cabelo desgrenhado, como ele pediu, descalça e nervosa, como sempre que ele cruza minha porta.
- Branco e preto, seu idiota?
- Branco e preto, minha boneca.
Flash. Flash, flash. Pede-me para ligar a música e aparece Massive Attack. Não quero ser seduzida por este homem do sorriso malandro, do queixo que só apetece morder, dos braços que rodearam com exactidão matemática meu corpo numa noite durante a qual esqueci as regras tácitas dos velhos amigos. Não devo, mas quero, e ele sabe disso. Tortura-me ao colocar minhas mãos na posição adequada, com deliberada lentidão, ao retocar as pregas do kimono sobre minhas coxas, roça-me sem tocar-me e sinto seu hálito na nuca, quente e cheio de promessas e lembranças que me fazem arrepiar.
- Naquela noite estavas a usar um de cetim preto, não era?
- Era azul.
- Se calhar era... A roupa era o menos importante.
- Pois, o mais importante é que tu eras um homem livre.
- E tu menos ponderada. E gostavas de ser minha fanciulla- diz, enquanto suas mãos começam a desapertar o nó do meu kimono.
- Pára...

1 Comments:

Blogger L.S. Alves olhou e...

Não sei por que algo me diz que alguma coisa não vai muito bem por esses lados.
Cuida-te.
Um abraço.

18 março, 2008 16:50  

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