terça-feira, setembro 18, 2007

Outono interior

Sentada à turca sobre uma almofada no tapete, a vizinha ouve Yoshida Brothers enquanto lê Eça de Queiroz. É de novo a tranquilidade depois da tormenta; é a felicidade simples de ter uma almofada grande e macia e um copo de chá ao lado, um bom livro e boa música para esquecer o mundo.
O telefone toca. A vizinha atende, zangada com aqueles que ousam tirá-la do seu descanso. É uma companheira da faculdade, a perguntar como vai no novo emprego. Ela explica que adiaram a data de começo porque o chefe tá doente com qualquer coisa contagiosa e que aproveita estes dois dias para descansar. Fazem fofoca dos companheiros. Criticam os professores. Combinam para trocarem uns livros. A vizinha desliga e atira o telemóvel para o canto mais remoto do sofá.
Cinco minutos e o telemóvel toca de novo. A vizinha se estica para ver quem é. Ele. Coloca uma almofada sobre o aparelho e ameaça com asfixiá-lo se continuar a atrapalhar. Volta ao seu livro enquanto bebe um gole de chá.
Cansou das aventuras, dos jogos, dos homens que se fazem de interessantes, dos que fingem ter conversa para conseguir o que querem, dos que nem sequer fingem porque se acham cativadores, das mentiras que eles chaman de sedução.
O livro sobre os joelhos, sentada à turca sobre a almofada, os pés descalços e a alma em paz, a vizinha regressa ao mundo dos Maias e não tenciona voltar até não ter aprendido uma ou duas coisas.

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3 Comments:

Blogger L.S. Alves olhou e...

Por essas e outras que eu sou fã da vizinha.
Beijos e bom descanço.

18 setembro, 2007 12:49  
Blogger Rafeiro Perfumado olhou e...

Tadinho do telemóvel, ali estrafegado com uma almofada em cima...

18 setembro, 2007 22:46  
Blogger anarresti olhou e...

gosto da tua escrita.

20 setembro, 2007 18:44  

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