Wait until spring

Despiu-se. Olhou-se no espelho, tão branca. Wait until spring, dear neighbour. Por um momento, ficou presa em si própria, abraçando-se sem pensar, a mente muito longe daquele lugar.
- Anda cá, Nin.
A voz a arrancou daquele ensimesmamento. Virou-se e entrou na banheira cheia d'água quente, onde a esperava uma pele mais macia do que a sua.

Dor de cabeça

A verdade doi, mas posso agüentar uma dorzinha. Meu pequeno coração mesquino pode sofrer isso bem melhor do que meu cérebro.
Fingir o que não se sente para conseguir o que se quer. Fingir mesmo quando ninguém nos pede para o fazer.
Meu coração egoísta pode com isso, meu orgulho não. E não sei se já tinha dito, mas sou muito orgulhosa mesmo.

Cigana

- Não me chames de Capitu. Eu não tenho esses "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" do romance.
- Tens, tens sim. Quando dizes verdades com a boca, mentes com os olhos.
- Se tu o dizes...

Mmmh...

Os contos de fadas são os romances eróticos das crianças.
Jean Paulhan, no prólogo de "História de O".

No, thanks.

Ele disse: Quero morrer contigo.
Ela respondeu: Para quê, se nunca quiseste viver comigo? Queres é não morrer sozinho.

Gloomy Sunday

Sunday is gloomy,
My hours are slumberless
Dearest the shadows
I live with are numberless
Little white flowers
Will never awaken you
Not where the black coaches
Sorrow has taken you
Angels have no thoughts
Of ever returning you
Wouldn’t they be angry
If I thought of joining you?

Gloomy sunday

Gloomy is sunday,
With shadows I spend it all
My heart and i
Have decided to end it all
Soon there’ll be candles
And prayers that are said I know
But let them not weep
Let them know that I’m glad to go
Death is no dream
For in death I’m caressin’ you
With the last breath of my soul
I’ll be blessin’ you

Gloomy sunday

Dreaming, I was only dreaming
I wake and I find you asleep
In the deep of my heart here
Darling I hope
That my dream never haunted you
My heart is tellin’ you
How much I wanted you
Gloomy sunday

Acção!!

Cansada de tanta lamechice, a vizinha pôs duas notas sobre a mesa, levantou-se e deixou aquele rapaz chorando sozinho no pub.
A vida não é para quem chora, é para quem age.

Changes

I can't change the world...
But I can change ME...
And that's enough!!

Tex-mex

Escrevo para ti, que não vais ler isto... E mesmo que lesses, não entenderias.
Escrevo para ti para admitir perante meu pequeno mundo que gosto de ti. Que me atrai esse teu jeito danado, esse teu estilo fatale anos cinquenta e teu misto de inocência e maldade.
Sei o que estás a fazer. Fumas um cigarro enquanto bebes teu copo. Podes ficar com o whisky. Eu só preciso dum gelo para percorrer teus lábios, teu pescoço e a pele macia do teu peito, para provocar-te arrepios e ver como teu olhar perde seu ar descarado e vira suplicante.
És simplesmente linda...

Lado oculto

Escondida trás os grandes óculos escuros, que qualquer beta invejaria, a vizinha lê enquanto o comboio a leva para uma cidadezinha feia onde deve trabalhar esta tarde.
A vizinha só se esconde de si própria, só tem medo de ela. Se tivesse medo do homem sentado no banco diante dela, esse que fixa os olhos no seu pescoço, abotoaria os três botões superiores da camisa. Se tivesse medo do terrorismo, não viajaria mais de comboio. Se tivesse medo de morrer de cancro, faria mais desporto e comeria mais legumes.
Mas não é bem isso. É o desejo de deixar bem longe o ódio, um ódio que ainda sente, que não conseguiu apagar depois de muitos anos, ela que sempre deixou as pessoas saírem e entrarem da sua vida sem pedir explicações, ela que nunca sentiu ciúmes de ninguém e que não consegue tirar da sua alma esse ódio que a apodrece lentamente.
E tem medo porque houve uma altura em que o viu e sentiu aquela vontade incontenível de apertar o acelerador, o coração a bater feito um tambor e um sorriso sádico nos lábios.

Still alive!

Botas de couro preto... Preparadas.
Calças de ganga... OK.
Camisa decotada... Como sempre. *
3... 2... 1...
A vizinha voltou à cidade.
* Mentira... Está de short e camisola, e ainda por cima com meias com dedinhos!!