Hoje fui cortar o cabelo. Minha cabeleireira é tão doida quanto eu, e o mais perigoso é que ainda por cima é criativa. E eu não reclamo nunca. Por isso, quando cheguei, ela começou, muito orgulhosa, a mostrar sua obra a toda as senhoras lá presentes.
- Olhem, não ficou bonita? Olhem as cores!! Rosa e laranja sobre o fundo chocolate!!
Enquanto ela confere que as madeixas continuam no seu lugar e pensa por onde vai cortar, eu lhe falo da mulher que vi hoje no metro. Seu cabelo era um espectáculo: não só pelo tom loiro claro, mas pelos matizes que adquiria dependendo da luz; por momentos parecia prateado ou azul.
Minha cabeleireira, que é doida como eu e muito criativa, diz:
- Mas para isso deviamos descolorar-te o cabelo antes.
- Mas eu não quero essa cor, só gostei do efeito naquela rapariga. Eu nunca pintaria de loira.
Aí ela coloca as mãos na cintura e olha para mim, com as tessouras na mão.
- Como assim, não? Tu já tiveste o cabelo preto, castanho, vermelho, azul, roxo, laranja, rosa e agora vais me dizer que loiro não gostavas? Preconceito, hein?
- Mas eu sou morena, não me ficaria bem...
- Tu, morena? Tu és castanha clara!!
- Mas olha, minhas sobrancelhas são pretas...
- Menina, tu és daltónica. És castanha clara. E loira estavas linda. Ficava-te bem com a cor dos olhos.
Saí dali a pensar se era verdade que não sou morena. Ainda bem que tenho a certeza que sou rapariga, pelo menos. Porque do jeito que ela fala, ainda me convencia também disso!!