quarta-feira, março 26, 2008

Desejo concedido

Baixei o olhar, corada, porque te amo.
É a verdade, e enquanto aquela música enchia tudo ao redor, eu desejava que os versos se materializassem em letras de fumo para desmanchá-los com meus dedos num aceno mágico...
Nota a nota, amei-te sem palavras, com os lábios secos pela ansiedade. E então tu murmuraste a pergunta perfeita:
- Ó Nin, traduzes a música para mim? Mas não para a minha língua, para a tua.

Quizá no sea el momento adecuado,
Tal vez yo no sea la persona adecuada,
Pero hay algo sobre nosotros que quiero decir,
Porque de todos modos hay algo entre nosotros.
Tal vez yo no sea la persona adecuada,
Quizá el momento no sea el adecuado,
Pero hay algo sobre nosotros que tengo que hacer,
Una especie de secreto que voy a compartir contigo.
Te necesito más que a nada en mi vida,
Te quiero más que a nada en mi vida,
Te echaré de menos como a nadie en mi vida,
Te amo más que a nadie en mi vida.*


E quando acabei de desenhar os sons no teu ouvido, soube que a noite era nossa, mesmo sem tu saber... Porque tínhamos a música, a praia e as estrelas do nosso lado...

* Daft Punk, "Something about us", do álbum "Discovery".

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quarta-feira, março 12, 2008

Meu lobo

Chega com a câmara e o sorriso prontos para me desarmar e olha para mim com os lábios prontos para formar o apelido que só ele me dá.
- Fan...
- Já te disse que não me chames de fanciulla.
- Adoro quando te zangas- beija-me perto da boca e não consigo ignorar seu aroma delicioso, limão e cedro, que envenena minha decisão.
Veio para tirar as fotos que lhe prometi há muitos meses, quando ainda éramos simplesmente amigos e precisava delas para seu portfolio. Já estou pronta, de kimono vermelho e cabelo desgrenhado, como ele pediu, descalça e nervosa, como sempre que ele cruza minha porta.
- Branco e preto, seu idiota?
- Branco e preto, minha boneca.
Flash. Flash, flash. Pede-me para ligar a música e aparece Massive Attack. Não quero ser seduzida por este homem do sorriso malandro, do queixo que só apetece morder, dos braços que rodearam com exactidão matemática meu corpo numa noite durante a qual esqueci as regras tácitas dos velhos amigos. Não devo, mas quero, e ele sabe disso. Tortura-me ao colocar minhas mãos na posição adequada, com deliberada lentidão, ao retocar as pregas do kimono sobre minhas coxas, roça-me sem tocar-me e sinto seu hálito na nuca, quente e cheio de promessas e lembranças que me fazem arrepiar.
- Naquela noite estavas a usar um de cetim preto, não era?
- Era azul.
- Se calhar era... A roupa era o menos importante.
- Pois, o mais importante é que tu eras um homem livre.
- E tu menos ponderada. E gostavas de ser minha fanciulla- diz, enquanto suas mãos começam a desapertar o nó do meu kimono.
- Pára...
A entrada anterior fazia 200 textinhos no meu canto, mas foi uma entrada triste e, ainda por cima, premonitória.
Por isso vamos, melhor, mudar de assunto...