segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Temerária

Sempre arrisco. Sempre consigo o que quero.
Mesmo assim, conseguir não significa ganhar. Já me aconteceu atingir o objectivo para depois aperceber-me que não valia a pena.
Já errei muitas vezes. Magoei alguns no meu caminho.
Sempre a arriscar, a apostar forte. Usei meus ases sem pensar no dia seguinte. Porque talvez não houvesse um dia seguinte.
E errei, errei. Errei tanto. Chorei quando ninguém me via, sequei as lágrimas nas luvas e sorri ao mundo como se ele não me tivesse decepcionado nunca.
Escondi a dor como se esconde uma desonra.
Mas não me arrependo de nada do que fiz. De nada. Só anoto as lições que tenho aprendido e as guardo num canto da alma para não repetir os velhos erros.
E guardo mais um ás na manga da minha luva preta.

Etiquetas:

sábado, fevereiro 24, 2007

Advertência

- Então, quando eu te beijar, vais tremer de novo?
- É claro que sim... Já sabes que sempre tremo da primeira vez.
- Mas não vai ser a primeira.
- Vai ser sim... A primeira vez que te vejo desde a última...
- Então, prepara-te para tremer.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Lisboa no meu coração

Amo Lisboa.
Amo a sua luz atlântica, o branco nas paredes, o brilho que fere os olhos, esse ar de cidade adormecida ao sol, esperando por qualquer coisa que ninguém sabe.
Amo a sua arquitectura, ora decadente, ora prodigiosa, as ruas que por vezes me parecem laberínticas, o contraste entre o velho e o novo.
Só há uma cidade da que eu goste mais... Mas essa já quebrou meu coração de voyeur quando era mais nova.

Etiquetas:

sábado, fevereiro 17, 2007

Dicotomias

- Não é que não queira estar contigo, é que não gosto de ti.
- Não sou soberba, apenas orgulhosa.
- Não é a cor dos meus olhos, são lentes de contacto.

Uma das três é mentira...

Etiquetas:

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Anjo exterminador

Então, fechou o livro, desmanchando a paisagem, apinhando as árvores, os rios, as pedras, os animais, massacrando as pessoas e derrubando as casas da aldeia.
E depois, o ocultou no canto mais alto da prateleira, onde ninguém o poderia alcançar nunca, para que o mundo não soubesse do mundo que ela tinha criado e destruído.
E fechou a porta com chave e guardou a chave perto do peito, para não esquecer que ela era uma assassina, deusa-mãe e anjo exterminador.

Etiquetas: ,

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Coração de pássaro

É agradável sentir-te assim... A força com que me seguras, longe de assustar-me, faz com que me sinta protegida. Olho meu reflexo em teus olhos. É bom sentir-te assim.
Tuas mãos grandes, nodosas, rodeiam minha cintura, delicadamente, mas com firmeza. Sabes que não vou fugir. Sou tua cativa... Acaricias-me.
Tremo.
Tremo de prazer.
Tremo de medo.
Tremo de vontade.
Tua boca se aproxima da minha. Beijas-me, sem fechar os olhos, atento à minha reacção, ao meu coração que se acelera e palpita como um pássaro prisioneiro no meu peito, às minhas pernas que se rendem e te obrigam a cingir meu corpo mais ainda.
Desfaleço. É tão bom estar assim contigo, vencida e entregue, sem pensar em nada. Só teu corpo e meu corpo.
É perfeito, tua pele contra a minha, o contraste e a união das cores, dos cheiros, das gotas que se deslizam por teu peito, por minhas costas, o som da tua voz que me sussurra ao ouvido palavras que me fazem corar.
E saber que vais dormir comigo até o sol nos esquentar a pele.

Etiquetas: ,

sábado, fevereiro 03, 2007

3 de fevereiro, 2006

Há um ano, mais ou menos a estas horas, andava a vizinha nervosa-nervosa-nervosa no caminho a Parla para o concerto de Blasted Mechanism.
Os coitados dos seus amigos aturaram-na o caminho todo, a noite inteira e ainda durante os dias seguintes, que passou a cantarolar com um sorriso parvo na boca e as pupilas dilatadas.
Agora a vizinha espera pela seguinte cita e pergunta: "desta vez vens? Já é a terceira que te pido para vires comigo, pedaço de *%/&%/$%&"·"$$!!"

Etiquetas: ,

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

História de N

Um dos seus prazeres preferidos é sentar-se na sua poltrona, coberta por uma manta, descalça e vestida só com uns shorts do Snoopy e uma camisola de alcinhas. Gosta de sentir a lã da manta sobre a pele nua, o calor a estender-se pelo corpo.
O melhor é acompanhar o momento com um chá quente e um bom livro. E hoje conseguiu um romance que queria ler desde seus quinze anos. A História de O. Finalmente.
Ela não vai confessar, mas roubou o livro da prateleira duma boa amiga há uns dias; leu o prólogo e soube que tinha de levá-lo para casa... No seu lugar deixou outro do Marquês de Sade. Assim são as velhas amigas.
E agora sente as bochechas quentes e cócegas no estômago enquanto avança pelas páginas do romance... E a impaciência que provocam todas as boas histórias.